certamente que Benjamin morreu para cruzar uma fronteira e Bruno Schultz morreu por não ter cruzado fronteiras e Sandor Marai empacou para nunca mais em uma fronteira e Faulkner não tinha fronteiras e Pound erigiu uma fronteira vertical e inútil e Beckett ficou murmurando meia vida inteira “há uma fronteira no meio do caminho” e Gordimer perguntou a Coetzee “não consegues ver a fronteira?” e Whitman não reconhecia fronteiras e Gabriel Garcia Márquez fez suco de fronteira e deu para as tristes putas beberem e Naipaul transfronteirizou e certamente fronteira é uma abstração que o erutidismo acadêmico desconhece: o apego pegajoso delirante tosco grosso brusco nauseabundo inebriante das palavras, como no conto de Kafka em que o que importa é o macaco em cima do realejo
quinta-feira, 2 de abril de 2020
fronteiriças
sábado, 28 de março de 2020
alcácer do sal
não me lembro bem qual era o objetivo
sábado, 14 de março de 2020
congonhas
terça-feira, 7 de janeiro de 2020
livreto da inquietação IV
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Francesca Woodman |
o prodígio da palavra é tanto transmutação
[atena despeitada aracne
virada aranha]
quanto nulificação
[orestes assassino da mãe absolvido por minerva]
o prodígio da palavra é incontível desvelo do real
[picada trilha estrada tempo
cheiro vento]
é paralisação perante frondosa bifurcação
[the road
taken – the road not taken]
o prodígio da palavra é escape
por corredores emaranhados
llenos de breves trechos
intermináveis sempre
o inatingível da palavra nunca
dois advérbios de tempo atemporais
um perpetuamente [cela com a porta escancarada]
o outro jamais [porta escancarada para uma cela]
o prodígio dela é tão
que os vaidosos da palavra
as usam para queimar fogueiras
e os mendigos da palavra
as usam para desconstruir os iglus
onde feneciam congelados
o prodígio da palavra é uma arapuca:
preces a bifurcações
preços
prazos e mata-burros
sábado, 28 de dezembro de 2019
livreto da inquietação II
aceitar
é preciso
a brandura das ondas a virulência
a colmeia do mel o mel da abelha
as férias os pirilampos
compreender
não é preciso
pessoa escreveu um livro inteiro desassossego
[composto
por um ajudante de guarda-livros]
eu
engulo suspiros
regurgito confusão
como
quase qualquer pessoa
confiada à aleatoriedade marítima
das marolas aos vagalhões
bem
poderia escrever um livro de sublimes inquietações
mas
me jogo pulo salto caio levanto pulo salto caio levando
ao
soprar de nem sei quem
pairo no éter
pena presa no vento
no
ar invagino
os bofes para fora
e em vez do desassossego sossegado
[e ergo o livro profundo e vão]
espero
que a lama estenda suas asas
e lave a embarcação
espero
com o coração na mão
à mostra
sem pudor
batendo o bumbo do mar batendo no chão
para quem quiser olhar
para quem quiser ver
o bicho bobo das ideias
da propostas das sugestões
me assombra como alguém preso no ar
do
sopro de outrem
esteja
tão bem aprumado
com o coração sem preço
ali na mão
de toda sexta feira
livreto da inquietação I
Essa planta é a alegria dela, e também por vezes a minha.
- os não-profissionais da vida e de todos os ramos de atividade, os que balançam o tronco para lá e para cá ou encaixam o queixo entre o polegar e o indicador da mão direita (esses são os destros) e colocam o olhar acima do nível do nada quando tudo o que têm a fazer é saber o som e dar o tom de um sim ou de um não e diante do nada ad mirante arrastam-se e ao saco do mundo ao descerem do pêndulo ou lépidos e fagueiros como subiram descem e jogam o saco do mundo na primeira lixeira que passa e comentam com o primeiro transeunte que encontram que gostariam mas talvez não gostem [I do prefer os amadoras; sinceras, são profissionais mesmo na dúvida]
- alguma coisa que vem lá de longe, de uma dimensão pansexual, um quer-não-quer que quer tudo, doucement pantagruélico, ou um quer que parece que não ou um não quer que parece que sim, assim um pingue-pongue (tênis de mesa não é) sem bolinha ou mais, muito mais precisamente, com muitas bolinhas invisíveis
- uma coisa intangivelmente emasculada que vem de bién cerquita, vraiment de dentro, profissional, é-não é, resolve logo pentejo, que, suscetível, pobrezito, se enreda e se embanana e mesmo patinando na pista de pouso levanta voo e voa a esmo sua imaginação intuitivamente poderosa e míope e vê cascalhos e narcisos e vê a desvontade dos não-profissionais e vê segredos nada secretos e vê francesca-lente fissuras onde elas pareciam não ter como existir, francescamente metade ou parte de uma figura sumida numa parede, a outra parte ou metade totalmente inteira e vera e sempre (ou quase sempre) algum espelho [she, a homem de pau, I adore, she gets exactly what messes me up which I guess is myself when what drives me does not drive anyone else in particular]
- la famiglia mediana autoajuda orlando lisboa aruba em seus assuntos-negócios, seu impressionismo paracientífico, seus sentimentos genéticos habitando o habitat do habitus da mundanidade da mais alta relevância, le famiglie frações da Klasse que lacrimeja na ágora ao som sertanejo universitário e esquia na encosta trágica da história contemporânea no exato instante em ela fede a um palmo de seu enorme sexo-nariz
- o instagramático semicircuito beletrista de liubliana, de simpática semântica e comportada sintática però sem dramática alguma
- mi lack of pazienza, seasickness mismo, con mis tentativas insinceras de não trupicar para não cair no pé do pai e deixar escapar pela boca o que em mim entrou ou deixei (deixei?) entrar pelos poros pessoais e sociais ou, talvez, para fazer jus ao profissional que sou, tudo em mim que total ou parcialmente está nos bullets acima
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Francesca Woodman |
sábado, 19 de outubro de 2019
the korean war
domingo, 18 de novembro de 2018
modelo para editais universais
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Jean Marconi |
somebody: a não ser pelos estatelamentos da construição
nobody: é, tem que ler o prefácio à 2a edição
sexta-feira, 12 de janeiro de 2018
gerúndio beija o astrolábio
Gerúndio envelhece só no mundo
com cafeína nicotina e pastilhas sentimentais
intermediário entre uma chuva e outra
dígito-eletrônico
[com instruções minuciosas e imprecisas]
cervejas macumbas cerejas
comprimidos de de-vez-em-quando
documentária sobre instrumento outrora tão poderoso
[da
altura das estrelas foi a expansão ultramarina]
envelhece uma pústula infectada e invisível
bicho bronco
de corpo cromo e asas alvas
bicho tosco
que o raio do pós-romantismo partiu
envelhece a puta-que-o-pariu três vezes
a pergunta
sobre a função da obra de arte
a função da obra de arte
a obra de arte
[e o que quer que seja aquilo ali]
envelhece
piados em tuítes postes em facebooks imagens instagramáticas
entupindo
os circuitos neuronais com limites e derivadas insolúveis
envelhece
nas regiões metropolitanas
linhaça
germe de trigo
glúten-on/glúten-off
farmaco farmarculorum y drogas manipuladas
manteiga-margarina-margarina-
manteiga!
envelhece
no reino do design gráfico
as
proporções os formatos
os tipos as
fontes
as tetas
das letras gregas
fórmulas para tudo e qualquer
coisa
pois quanto
mais formulaico menos autonomia
quanto
menos autonomia mais autocrática a ideologia
a verdade da palavra coisa
os parâmetros do modelo
e o que quer que seja aquilo ali
envelhece
com e sem gozo
dependendo
da estação do ano
do dia
da hora
do cheiro
da
substância
envelhece
também nas áreas urbanas não-metropolitanas e no campo
envelhece
como adolesceu
pleonasmo
de si mesmo
cisne-asno
querendo
beijar o astrolábio
sábado, 4 de novembro de 2017
misstep
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[ ? ] |
quarta-feira, 11 de março de 2015
a paper on social class
a beautiful young
scholar wearing black glasses
presents her study’s
motives
its relevance
foundations
methods
results
I think
sex not about
her
not with her
no sex at all
not here
not now
[but I do enjoy
strolling around it without the thinking of it]
no m’am
not
picturing it
neither
lust nor seduction
not a
male-ish drop
but
animals beautifully designed to practice it as an art form
in which
lines curves lights shadows sweat moans
align
with mars
and
pleasure guides the planets
no sir
I am not
able to differentiate bodies
I only
hear lines and curves
and smell faces
sábado, 17 de janeiro de 2015
alegría
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John Hornbeck |
cuando
nascer la otra hija
ella misma
se nombrará Alegría
e non
tendrá mãdre
[perquè ain’t no mountain high enough]
la niña se
llamará Alegría
y no tendrá
madres
[‘cause ain’t no mountain high enough]
mi novia
Montserrat
me apascentará
e eu amanhã-la-ei
no oiré máis sonidos de autos
com motores de 200 caballos
no ensacaré
dilemas en encruzilhadas
ni irei a
fiestas de cumpleaños
quando eu tiver morrido será uma pena
o fim da partida
só isso
não me preocuparei mais com fonemas
ni amb la
història de brasil
no em preocuparé per les sequeres prolongades
nem com o bem-estar das próximas gerações
quando o minúsculo segundo do derradeiro minuto
atirar la última piedra
e errar o alvo
quedaré en
la paz de los olvidados
mirando de
mi ventana
los bos
aires de mi amada
y la
prediaria de aquel cidad
Montserrat
una sonrisa unha bágoa
xiuxiuejarà
‘Alegría é túa fia’
e quando eu tiver morrido
será uma pena
e só isso será