sábado, 19 de novembro de 2022

noite escura incidental

 

quando voltava ia para lugar nenhum

recostado no breu de um cigarro aleatório

vi o revólver no nariz

a cicatriz na montanha escura da cidade

 

ereto

tremendo

explodi o pode-ser da cachaça das chances

 

foi assim o nada descido frio em meu pescoço

foi assim e ó era tarde demais

noite brusca

 

noite escura estrela-chuva noite escura nos meus olhos

noite escura nas mãos do agiota errante

noite bruta

 

em deitado no asfalto naquela estrada olhando o céu

eu mesmo percebi que ia sobreviver

eu mesmo vi quem mandava

            a chuva há de parar e parava

            o céu há de estrelar e estrelava

 

eu não procurava nada naquela paz muda

no céu estrelado

só olhava

não tinha gente


            alguém estava em pé do outro lado da estrada

            eu olhei

            disse nada

ele respondeu

            disse assim também a mesma coisa para mim

            nada

            só olhar

 

barulho luzes uma polícia rodoviária espantou a paz

[espavorida

 bateu asas]

 eu mesmo sabia que não ia viver

 

um cão pastor atravessou a estrada

parou logo aqui

            rosnou três vezes

            para a noite escura nos meus olhos


andrejcaetano [1990]

Lorenzo Castore




domingo, 6 de novembro de 2022