gerĕre, 'fazer, produzir, executar'
foi
violando regras e
auscultando donzelas e
jogando com os ditados
e
modernizando noivados e
enganando os desenganados e
lembrando ‘ó que sonho estranho
sonhei noite passada’
(dentro do coletivo viu o tempo de hábito franciscano e
cabeça raspada enquanto ao seu lado um romeno apressado llhe garantia que era seu parente
distante via obscuro amanuense romano) e
desesperando a próxima estação e
descontando seu parco dinheiro e
dispensando quantos anos já havia e
inalando olhares e
roubando fumaças e
ouvindo os sinos que arranham
os ouvidos na
madrugada e
depois deles os galos
sofejando seus azedos sofejos
“tá na hora! já
passou!”
tudo por assim dizer
em termos mais precisos
gerundiando
não chegando
não passando
tudo sendo
gritou
“mãe!”
sua mãe preocupada acorreu na
madrugada
“filho! é só mais um pesadelo!”
que ele lha explicou
“não mãe! é
gerúndio!
se falássemos o tupi
eu dormia em paz”
e a mãe imaginando consolar
“filho, o tupi tem três tempos gerundiais”
pois
não prestando muita atenção
[na paisagem da janela
na própria sorte]
desconsiderando nacionalidades
destemendo gitanos
acordou zonzo e só
em um trem andaluz
o Gerúndio
de sempre
indo
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