venho
por meio deste ritmo eletrificado dizer ó quimera avança tu sozinha e deixa meu
cabelo medusa crescer serpente com cloro e fumo que um esforço é tudo que se
pode. as coisas. essa ameba. eu. como queira você mas o normal sempre me trouxe
cavidades do tudo ou nada. este sempre foi o debate! maravilhas me dirão de
cidades como se fossem algo sem povo. como se fossem gigantes. me dirão sobre
mulheres como se elas fossem amor e sexo sem gênero a lhes impor. me dirão muito mais porque só o
que salva é o coração. como se fosse apenas dizer para si no espelho: ó meu
coração. quanta porta. venho por meio desta fechadura dizer que não tenho
controle sobre o que quero. não quero nada. quero tudo. mora em meu banheiro um
demônio de nome belial. dorme sossegado e não tem nada a sugerir para o meu mal
ou para o mal que eu deva promover. ressona desinteressado. em minha sala vivem
anjos que adoram pipoca e televisão. ó deus de djakarta! queime minha
televisão! venho por meio deste computador referendar que quero morrer qualquer
um e já. o passado dói gelo no meu estômago apenas porque esteve parede na
minha mão e virou fotografia. o mesmo engano de pensar que belas palavras são a
precisão de uma poesia. estou aqui neste prédio velho e barulhento para afirmar
que da praia a visão do mar me acalma e que gosto do caminho sem gentes no
início da noite e da chuva que me trespassa como se fosse ela a mão do deus e
que sofro muito vendo gente humilhada e na igreja domingo quando vou sei que
não interessa o medo porque agora naquela hora de qualquer morte amém e não
faço nada mas não dou esmola. isso é tudo o que sou: um olhar vaidoso. um bicho
que reza. apesar dessa sapiência ter chegado ao pulmão não consigo parar de
mirar a piscina da cidade para ver como meus pares nadam e inverno longos
verões de prostração até perceber que não sou peixe de piscina. paciência.
venho por meio deste poema longo de natação dizer que a angústia de morar na
beira da cidade não me avassala mais como se fosse um rei protetor a mão do
deus e não a chuva que passa. que sou sozinho. que não quero nada. que o vazio
é o recipiente. que a lagartixa está magra por que o inverno foi seco. que
ganho pouco. que leio muito. que creio em paz. que confirmo minhas culpas em
qualquer tribunal. venho por meio desta língua ancestral quebrar o ritmo de ser
querendo tudo e afirmar que estou cansado demais para continuar achando que eu
dirijo a minha nau. que d’agora por diante será como eu puder. um bicho do deus.
andrejcaetano
Liza Kanaeva Hunsicker |
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