sexta-feira, 3 de abril de 2020

longo poema de natação


venho por meio deste ritmo eletrificado dizer ó quimera avança tu sozinha e deixa meu cabelo medusa crescer serpente com cloro e fumo que um esforço é tudo que se pode. as coisas. essa ameba. eu. como queira você mas o normal sempre me trouxe cavidades do tudo ou nada. este sempre foi o debate! maravilhas me dirão de cidades como se fossem algo sem povo. como se fossem gigantes. me dirão sobre mulheres como se elas fossem amor e sexo sem gênero a lhes impor. me dirão muito mais porque só o que salva é o coração. como se fosse apenas dizer para si no espelho: ó meu coração. quanta porta. venho por meio desta fechadura dizer que não tenho controle sobre o que quero. não quero nada. quero tudo. mora em meu banheiro um demônio de nome belial. dorme sossegado e não tem nada a sugerir para o meu mal ou para o mal que eu deva promover. ressona desinteressado. em minha sala vivem anjos que adoram pipoca e televisão. ó deus de djakarta! queime minha televisão! venho por meio deste computador referendar que quero morrer qualquer um e já. o passado dói gelo no meu estômago apenas porque esteve parede na minha mão e virou fotografia. o mesmo engano de pensar que belas palavras são a precisão de uma poesia. estou aqui neste prédio velho e barulhento para afirmar que da praia a visão do mar me acalma e que gosto do caminho sem gentes no início da noite e da chuva que me trespassa como se fosse ela a mão do deus e que sofro muito vendo gente humilhada e na igreja domingo quando vou sei que não interessa o medo porque agora naquela hora de qualquer morte amém e não faço nada mas não dou esmola. isso é tudo o que sou: um olhar vaidoso. um bicho que reza. apesar dessa sapiência ter chegado ao pulmão não consigo parar de mirar a piscina da cidade para ver como meus pares nadam e inverno longos verões de prostração até perceber que não sou peixe de piscina. paciência. venho por meio deste poema longo de natação dizer que a angústia de morar na beira da cidade não me avassala mais como se fosse um rei protetor a mão do deus e não a chuva que passa. que sou sozinho. que não quero nada. que o vazio é o recipiente. que a lagartixa está magra por que o inverno foi seco. que ganho pouco. que leio muito. que creio em paz. que confirmo minhas culpas em qualquer tribunal. venho por meio desta língua ancestral quebrar o ritmo de ser querendo tudo e afirmar que estou cansado demais para continuar achando que eu dirijo a minha nau. que d’agora por diante será como eu puder. um bicho do deus.
andrejcaetano

Liza Kanaeva Hunsicker

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