quinta-feira, 2 de abril de 2020

fronteiriças

"I am, by calling, a dealer in words; and words are, of course, the most powerful drug used by mankind"
Rudyard Kipling


certamente que Benjamin morreu para cruzar uma fronteira e Bruno Schultz morreu por não ter cruzado fronteiras e Sandor Marai empacou para nunca mais em uma fronteira e Faulkner não tinha fronteiras e Pound erigiu uma fronteira vertical e inútil e Beckett ficou murmurando meia vida inteira “há uma fronteira no meio do caminho” e Gordimer perguntou a Coetzee “não consegues ver a fronteira?” e Whitman não reconhecia fronteiras e Gabriel Garcia Márquez fez suco de fronteira e deu para as tristes putas beberem e Naipaul transfronteirizou e certamente fronteira é uma abstração que o erutidismo acadêmico desconhece: o apego pegajoso delirante tosco grosso brusco nauseabundo inebriante das palavras, como no conto de Kafka em que o que importa é o macaco em cima do realejo

andrejcaetano
Renan Ozturk






Nenhum comentário:

Postar um comentário