Lorenzo Castore |
quando voltava ia para lugar
nenhum
recostado no breu de um cigarro
aleatório
vi o revólver no nariz
a cicatriz na montanha
escura da cidade
ereto
tremendo
explodi o pode-ser da cachaça
das chances
foi assim o nada descido frio
em meu pescoço
foi assim e ó era tarde
demais
noite brusca
noite escura estrela-chuva
noite escura nos meus olhos
noite escura nas mãos do
agiota errante
noite bruta
em deitado no asfalto
naquela estrada olhando o céu
eu mesmo percebi que ia sobreviver
eu mesmo vi quem mandava
a chuva há de parar e parava
o céu há de estrelar e estrelava
eu não procurava nada naquela
paz muda
no céu estrelado
só olhava
não tinha gente
alguém estava em pé do outro lado da estrada
eu olhei
disse nada
ele respondeu
disse assim também a mesma coisa para mim
nada
só olhar
barulho luzes uma polícia rodoviária espantou a paz
[espavorida
bateu asas]
eu mesmo sabia que não ia viver
um cão pastor atravessou a
estrada
parou logo aqui
rosnou três vezes
para a noite escura nos meus olhos
andrejcaetano [1990]