nas infâncias tinha avô
o avô tinha fazenda
a fazenda tinha um ribeiro
o ribeiro tinha uma curva
na curva tinha um remanso
no remanso era a seva
[à quirela de milho]
no final da tarde tinha pescaria
[‘deixa eu te ver peixe’ – ‘não
deixo’]
lambari brincava
fazia de grande
fazia de pequeno
lambiscava-isca
e partia [ela na goela]
o avô olhava de viés o menino
a vara envergando
retesando
a linha ziguezagueando
‘é lambari’
tem que ter tempo de pescaria
para saber lambari
piau era mais vagarento
[não bobo tilápia de açude]
o avô observava de soslaio
a linha a vara a mão a face
o menino
dizia primeiro com os olhos
depois ‘seja peixe pescador’
que o menino entendia calado
‘não é lambari’
entre quem não via o peixe
e o peixe que não via quem
anzol
o passaredo silenciando
o som manso da corrente maina
luz do sol descendo pela peneira das árvores
faíscas na água do ribeiro
reflexos da noite chegando
um punhado de quirela ondeia o remanso
a voz do avô [‘vamos subir’]
a resposta menina fita-lhe os olhos
‘peixe avô pescador’
menino conversando com o silêncio ancião
Matt Bachdar |
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