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domingo, 1 de março de 2020

bicho-preguiça


bicho-preguiça sabe nadar nonada
sabe esvaziar vazio
não tem vontade de descer
nem de será
     [se escrevesse escrevia de sabiá
      de manga rosa espada ubá
      da alegria de carnabalizar
      das águas de pedra do rio cipó
      descendendo sem nada significar]

bicho todo-metáfora sabe sobremetaforizar
‘isso é apenas uma face do cubo de gelo’
e gargalha 
que mera admiração pelo absurdo
 [nada sabe dos significados abatidos
  nas mesas de bar
  em reuniões decentes e encontros notórios
  nas antigas salas de jantar
  em aniversários casamentos e velórios]

ai enorme bicho-preguiça
abraçado a um galho de alguidar
fumando fumaça de narceja
bicho todo só-olhar
fala de longe lindas falas lentas
sem as iniciar

a suspirar a fumaça de seu narguilé
analisa as formigas transeuntes
não tem pressa
ali sempre
o jantar a passear

ai bicho maravilhoso com pulsão tão de vagar
que vontade de te abraçar

andrejcaetano
Monica Denevan

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