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terça-feira, 7 de janeiro de 2020

livreto da inquietação IV

o prodígio da palavra é tanto transmutação
[atena despeitada   aracne transformada em aranha]
quanto nulificação
[orestes assassino da mãe absolvido por minerva]

o prodígio da palavra é incontível desvelo do real
[picada trilha estrada   tempo cheiro vento]
e paralisação diante de frondosa bifurcação
[the road taken – the road not taken]

o prodígio da palavra é escape
por corredores labirintos emaranhados
onde apenas breves trechos aleitam
o alívio do inatingível na palavra sempre

a desesperança do inatingível na palavra nunca
dois advérbios de tempo atemporais
um perpetuamente [cela com a porta escancarada]
o outro jamais [porta escancarada para uma cela]

o prodígio da palavra é tão
que os vaidosos da palavra
as usam para alimentar fogueiras

e os mendigos da palavra
as usam para desconstruir moradas
onde feneceriam congelados

o prodígio da palavra é uma arapuca:
absconsos hermetismos   melífluos passatempos
preces a bifurcações onívoras
entretenimentos   mata-burros
andrejcaetano
Francesca Woodman



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