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segunda-feira, 6 de março de 2017

a mancha da tarde

sentei-me para ordenar as tarefas da tarde
e a primeira que me veio foi exatamente esta:
escrever um poema.
qualquer um!

manuel de barros adejou pelos desvãos da minha lógica
com seus sapos e pedaços de pau
e as personalidades dos rios e seus barrancos.
mas de nada adiantou.

poesias mais acadêmicas também sobrevoaram minha ótica.
inquietei-lhes a atitude com alguns poemas
de wislawa szymborska.
outra hora.

logo ali
o futuro do pretérito do trânsito paulistano
engarrafava poesias concretas.
mas nem me passou a idea de bebê-las.

lembrei-me então que eu bebera joão cabral.
isso porém não alterava minha condição
de temporário residente desta nau.
e agora?

preciso um poema
que não diga nada demais.
apenas manche esta tarde de palavras
e imprima nela a falta que ela não faz
andrejcaetano