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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

the woman in the balcony

All of a sudden
At least it seemed so then
The terrain got flat and plain
From the balcony
She starred at it long enough for the moon to change

Nothing changed
Her terrain stood flat and plain
There was no question
Nothing to answer nothing to claim

She took a pill
Two of them
Two shots of tequila
To shut down the brain
.
.
.
Kept starring at the terrain
There was no beauty there was no stain
The moon turned off its phases
Nothing to see nothing to complain
Two more shots of tequila then
‘Perhaps I am part of the terrain
 Worlds apart from any saying‘

Silence asked for silence
As the words also got flat and plain
 ‘Sure hoping is always in vain
  But mayhap tomorrow won’t be this way’
andrejcaetano

Brett Walker

terça-feira, 12 de agosto de 2014

casida da menininha

Dois loucos perambulavam pela Carochinha
Cada conto que encontravam
Agarravam e guardavam na sacolinha
Cada conto que encontravam
Menos um na Carochinha

Dois loucos saqueavam a Carochinha
A cada conto que encontravam:
‘Este é meu!
 Contos são dos que caminham!’
E tomavam o que não liam

Normal foi ficando a Carochinha
Vias, carros, cobras, gentes
Os loucos, os transeuntes
E eis que deram com uma menininha
Triste pelo que lá mais não tinha

Um louco olhou o outro:
‘Será um conto essa coisinha?’
Ele mesmo se anuviou:
‘Não, isso é uma menininha
E não cabe na sacolinha’

O louco outro sugeriu:
‘Caberá se bem amassadinha’
E ele mesmo desponderou:
‘Mas ficará toda amarrotada,
Não resolverá uma passadinha’

Afligida, a menininha ralhou:
‘Devolvam os contos da Carochinha!’
‘O que você nos dá em troca?’
 Perguntaram em uníssono
‘Tomem minhas lagriminhas’

‘Elas são líquidas ou de cristal?’
 Desconfiaram em uníssono
‘Nem líquidas nem sólidas,
São apenas minhas’
‘Então nada feito, menininha’

Loucos saqueiam a Carochinha
Encostadinha em uma folha
Está uma menininha
A repetir bem baixinho
‘São pérolas as minhas lagriminhas’
andrejcaetano
Herbert Lizt

quinta-feira, 3 de julho de 2014

novíssimas poéticas avoengas

ovas que não dão peixes
mesmíssimas malditas
[irritam-se
 as escritas]

velhíssimas novas nos enfeixes
            novíssimas ditas nos enfeites
troca-trovas de desditas
            trovas-ocas ocas chocas

ortocanônicas
confabuleias juramentosas
remuneram-se ventríloquas
autocongratulatórias

lei projeto e fábula
páginas kilocalóricas
ver-o-peso e desova
nas orelhas as devidas loas

capa
brônquios bronquíolos alvéolos
contracapa
  e nada do numerário sujo da alma
andrejcaetano
Hugo Mulas-Lucio Fontana

sexta-feira, 30 de maio de 2014

longo poema seco


o sol se pôs e ela não foi embora, ficou ali pensando na vida

de costas a liberdade deliberou: ‘ai meus deus’ – assim viram os olhos da manicure;
o anarquista disse para a pirotecnista: ‘deixa ela lá para ela não se machucar’
[era noite de lua nova, muito breu]

a moça levantou a perna, pousou o pé no banco e recostou o queixo no joelho

‘tudo ali é dela’, disse o dono da venda vendo de longe, ‘menos o que ela quer’;
‘ela não quer nada’, disse a mulher do dono da venda

os pés da moça estavam vestidos de lona vermelha, ela olhou o calçado

‘nestes tempos de tanto calor ela deve estar com chulé’, disse o vigarista;
‘ela ali pensando na vida que levaria se eu a levasse dali’, fantasiou o fantasma;
‘tu não hás e logo não a levarias’, disse o guarda;
a guarda olhou para o guarda e não disse nada para a falta de assunto
que reclamou que o tempo não passava
pois desde 18&58 já era uma vida e eram apenas 19&19

o início, conforme se especulou durante os meses seguintes,
foi o mar: corpo novo e solto assim vem do mar
‘do mar e do sol, que se pôs,
o que ela deveria ter considerado, deveria ter pensado na vida
e se preparado para as suas inevitáveis calamidades’,
devaneou o decano vigário

às 19&21 a moça tirou os olhos dos pés vermelhos, o queixo do joelho e a perna do banco

vinte oito expectadores se retesaram:
‘olha! olha! o que será que ela vai fazer?’

a moça levantou-se, chacoalhou a cabeleira e suspirou um sorriso para o alto

‘que coisa mais bonita’, pensou o vendedor de rapadura, ‘uma nuvem’;
‘vento de estrela’, a mãe da doceira viu, ‘o suspiro dela’

a moça se pôs a caminho
dobrou a ponta da praia
            e sumiu 

andrejcaetano
Natsume Soseki

quinta-feira, 27 de março de 2014

argos


carimbo
o cigarro revoluteando

em si bemois circulares
duas músicas

barroco ensimesmático de um mirante envolvendo com oceanos os tais sertões
quase um urso

aço
o vapor branco de Argos tracejando os céus da intemporalidade

andrejcaetano
Mario de Biase