Dois loucos
perambulavam pela Carochinha
Cada conto
que encontravam
Agarravam e guardavam na sacolinha
Cada conto
que encontravam
Menos um na Carochinha
Dois loucos
saqueavam a Carochinha
A cada
conto que encontravam:
‘Este é meu!
Contos são dos que caminham!’
E tomavam o
que não liam
Normal foi
ficando a Carochinha
Vias, carros,
cobras, gentes
Os loucos, os
transeuntes
E eis que
deram com uma menininha
Triste pelo
que lá mais não tinha
Um louco
olhou o outro:
‘Será um
conto essa coisinha?’
Ele mesmo
se anuviou:
‘Não, isso
é uma menininha
E não cabe
na sacolinha’
O louco outro
sugeriu:
‘Caberá se
bem amassadinha’
E ele mesmo
desponderou:
‘Mas ficará
toda amarrotada,
Não
resolverá uma passadinha’
Afligida, a
menininha ralhou:
‘Devolvam
os contos da Carochinha!’
‘O que você nos dá em troca?’
Perguntaram em uníssono
‘Tomem
minhas lagriminhas’
‘Elas são líquidas ou de cristal?’
Desconfiaram em uníssono
‘Nem
líquidas nem sólidas,
São apenas
minhas’
‘Então nada feito, menininha’
Loucos saqueiam
a Carochinha
Encostadinha
em uma folha
Está uma menininha
A repetir bem
baixinho
‘São
pérolas as minhas lagriminhas’