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terça-feira, 8 de outubro de 2013

semi-óticas [em 1/2 ato]

O transcendental se dissolvendo no 
Efêmero 
[Papo Furado (Cacaso)]

Cenário: um cobertor marron um cobertor amarelado
três gatos míopes imóveis
uma xícara de gás tranquilizante
um robô frio estragado
dois pratos com o resto do macarrão
uma garrafa de uísque escorregadio
um largo colchão no chão

Ela (olhando para o mar):  Foi por ali
meu bem
que fui parar em Paris
sonhar com voltar
Convalesci em Iriri
Nasci em Minas Gerais

Ele (olhando para o sertão): Ai aurora nascida de ventres pardos
esclerosada aos doze anos de idade
políticas   relações sociais
tão distantes de ti ou de nós
metafísicos da desimportância

Ela: em teu cobertor mumifico

Ele: em teu cobertor dilacero

andrejcaetano
Milena Seita

sábado, 5 de outubro de 2013

religiya i revolyutsiya

[...], a forma que revestirá o processo de edificação cultural e de auto-conhecimento do 
homem comunista desenvolverá ao mais alto grau os elementos da arte contemporânea 
[Leon Trotsky (Literatura e Revolução)]


Não matarás não cobiçarás a mulher do próximo
Práxis incontestes
Deus pôs leis em uma tábua
Inerte
Pois – deu a tábua a Moisés
Tu investes
Amarás ao próximo como a ti mesmo
O grande teste
E o espírito santo penetrou os corpos apostólicos
Pentecostes
.
.
.
O homem é o supremo senhor de sua agência
Sem concorrentes
A liberdade é seu desígnio último
Em utopia não se põe corrente
E o espírito do povo esteve em seus delegados
[Brevemente]
Atado aos propósitos revolucionários
Sovietes
Pois – Lênin morto
 Trotsky eterno crente –
Os desígnios se fizeram suprarreligiosos
            Bíblicas pestes e margareth tatchers
andrejcaetano
Jelena Osmolovska


segunda-feira, 6 de maio de 2013

o fabuloso canyon do peixe tolo



nadam ao seu redor citações plenas e palavras cibernéticas e palavras transsiberianas e também cristalina confusão e meio da noite e luas minguantes e faces sisudas tratando-o como de casa porém sem o ser que há nele idiota ondulando sua caudinha ziguezagueante ziguezagueando pelas locas do córrego tal fosse aquilo o mar único que já houve e haverá honra e glória imensas de se navegar submergido neste mundo fenomenal não obstante infiminhas as cenozóicas escamas rabiscando a esmo a água em prata sem pedra alguma para educar empoladas penas e as coisas reais e venturosas a passar por ele liquidamente intangíveis a ridícula semana de tarefas abstrusas e comezinhas a lambuzar suas nadadeiras de matéria desconhecida e gosmenta e se sol ou se chuva ninguém sabe que ninguém olha ninguém olha o dia lá fora o passado não mais que um ontem (ou no máximo ant’ontem) e o futuro não está adiante eterno porvir água ao seu encontro futuro-aqui e o agora não é estar não é estaca não é pilar não é jaca só um olhar que ondula tonto como o rabo e pouco vê além de reflexos quiméricos nesse córrego-mar maravilhoso e enganador e portanto as citações esplenomegálicas em palavras longas nenhuma similitude com a tarefa seminal ou o prazer gratuito ou a alegria genuína de quem não nada habitante desse trecho curto desse ribeiro tímido território alimentativo de peixinho-inho sob o respirar majestoso do universo que se concebeu muito tempo antes dos primeiros laivos amebóides de consciência para a qual repentina e microssegundezimamente a realidade em eterna e pétrea aparição impera vera e única sem arestas seixo no leito do córrego no fundo do fabuloso canyon do peixe tolo
andrejcaetano
Belma Arslan

sexta-feira, 15 de março de 2013

mr. cogito's soul [zbigniew herbert]

In the past
we know from history
she would go out from the body
when the heart stopped

with the last breath
she went quietly away
to the blue meadows of heaven

            Mr. Cogito’s soul
            acts differently

            during his life she leaves his body
            without a word of farewell

            for months for years she lives
            on different continents
            beyond the frontiers
            of Mr. Cogito

            it is hard to locate her address
            she sends no news of herself
            avoids contacts
            doesn’t write letters

            no one knows when she will return
            perhaps she has left forever

Mr. Cogito struggles to overcome
the base feeling of jealousy

He thinks well of his soul
thinks of her with tenderness

undoubtedly she must live also
in the bodies of others

certainly there are too few souls
for all humanity

Mr. Cogito accepts his fate
he has no other way out

he even attempts to say
– my own soul mine

he thinks of his soul affectionately
he thinks of his soul with tenderness

            therefore when she appears
            unexpectedly
            he doesn’t welcome her with the words
            – it’s good you’ve come back

            he only looks at her from an angle
            as she sits before the mirror
            combing her hair
            tangled and gray
Zbigniew Herbert
[ ? ]

terça-feira, 5 de março de 2013

carolina


carinha de lua de cartolina
sorriso de cetro na mão
olhos cristais de jaboticaba
olhares jaboticabais
doce doce doce
de saudade
a eternidade

Deus é quem sabe mais

sua cara linda hino
ka luinha de rosinha cartolina
em paz e fogo de ser quem é
criança marota fada pomar
mar de água pristina
o que as outras não podem mais

o tempo passa
o vento nos canaviais
pra Calu, toda a luz que houver nos universos - DeP
andrejcaetano, 5/3/2013
[ ? ]

sexta-feira, 1 de março de 2013

erro crasso


eu   se tive vidas passadas
numa fui urso noutra sucuri

tocas sem discurso
nunca falei nem nada escrevi

mas nesta deito poemas às carradas
erro do tamanho d'um cetáceo não usar a pena giz

andrejcaetano
Shu Cheuk


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

confiança [agostinho neto]


O oceano separou-se de mim
enquanto me fui esquecendo nos séculos
e eis-me presente
reunindo em mim o espaço
condensando o tempo.


Na minha história
existe o paradoxo do homem disperso


Enquanto o sorriso brilhava
no canto de dor
e as mãos construíam mundos maravilhosos


John foi linchado
o irmão chicoteado nas costas nuas
a mulher  amordaçada
e o filho continuou ignorante


E do drama intenso
duma vida imensa e útil
resultou a certeza


As minhas mãos colocaram pedras
nos alicerces do mundo
mereço o meu pedaço de chão.

Agostinho Neto

domingo, 13 de janeiro de 2013

the plural [kiki dimoula]


Love:
noun, substantive,
extremely substantive,
singular in number;
gender not feminine, not masculine,
gender defenseless.
Plural the number
of defenseless loves.

Fear:
substantive,
singular to start with
plural afterward:
fears.
Fears of
everything from now on.

Memory:
Noun, proper name for sorrows,
singular in number,
singular only,
and indeclinable.
Memory, memory, memory.

Night:
substantive,
gender feminine,
number singular.
Plural in number
the nights.
The nights from now on.

From the ‘The Brazen Plagiarist’, by Kiki Dimoula; translated by Cecile Inglessis Margellos and Rika Lessser
[ ? ]